Bairro Serraria em Diadema tem seu anjo da guarda

“Preservar vidas e não recolher corpos”. Esse é o lema do coordenador do Nudec (Núcleo Comunitário da Defesa Civil) Hermes Egídio Freitas, 40 anos, do bairro Serraria, em Diadema.

Gildão, como é conhecido, pode ser considerado um anjo da guarda. Mesmo aposentado por invalidez, por conta de problemas nas costas, ele já salvou pelo menos 21 pessoas, desde 1986, quando se mudou para o bairro.

Há dois meses, assumiu como coordenador do segundo Nudec – o outro núcleo é no bairro Eldorado – e, com as orientações dadas pela Defesa Civil e pelos ensinamentos da profissão, salvou 16 pessoas de serem levadas junto com suas residências pelo córrego dos Monteiros, próximo à Rua do Mar, no início do mês.

Segundo a Prefeitura de Diadema, o córrego está sendo canalizado desde o ano passado. O valor da obra é de R$ 13 milhões.

“Por ser vigilante, tive o curso de primeiros-socorros e de combate a incêndios, o que me ajuda ainda mais a salvar vidas. Lembro que chovia muito no sábado (dia 8) e, quando fui ver, a água tinha invadido praticamente a casa de uma mulher da rua. Olhei pelo buraco da porta e vi que a água já estava no pescoço dela. Na hora, com uma marreta, arrombei a porta e consegui salvá-la”, afirma.

Naquele fim de semana, a chuva não deu trégua para Hermes e o testou mais uma vez. “No domingo, foi outro dia de muita chuva; de madrugada, escutei um barulho e fui ver o que era. Liguei para a Defesa Civil pedindo orientação, e me disseram para retirar o mais rápido as famílias das residências na beira do córrego. Só lembro que depois que todos saíram, tudo caiu. Foi um milagre não ter acontecido nada com ninguém”. Naquela noite, seis casas desabaram, quatro ocupadas por famílias que escaparam.

Quando o tempo fecha e ameaça chover, todos os moradores da rua, próximo ao córrego, podem contar com Hermes. Ele fica atento e pronto para acionar os agentes e o coordenador da Defesa Civil. “Ele sempre está de olho em tudo, é alguém que está no bairro e que pode ajudar, antes mesmo da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros chegarem”, afirma o prensista David Nosola, 23.

“Meu objetivo é solucionar ou amenizar os problemas da população, e sei que faço o meu papel e cobro medidas”, explica Hermes.

Ao contar da experiência que já passou durante o período de chuvas, Hermes logo cita o salvamento de uma família com quatro crianças, em 1989. “Entrei com a água na cintura para salvar a família. Lembro que as quatro crianças estavam em cima de um colchão, sendo levadas pela água do córrego.”

Desde então, Hermes vem registrando a situação das moradias e do córrego e cobrando medidas. “Tiro foto de tudo, para que a administração veja a situação e tome providências. Agora, como coordenador da Nudec, esse contato ficou mais próximo e espero que as coisas melhorem.”

INTERDITADAS
Com as chuvas, desde o início do ano, 28 casas foram interditadas pela Defesa Civil de Diadema. Uma delas é a da família da dona de casa Izani Batista da Silva, 18.

“A casa foi comprada há menos de um mês e já foi interditada, por estar próxima das residências que desabaram no início de janeiro. Ficamos com medo, mas não temos para onde ir, não temos parentes onde possamos ficar”, explica.

Famílias agradecem ajuda de morador

É triste perder tudo aquilo que foi construído com muito suor, mas agradecemos por estarmos vivos”, afirma a dona de casa Maria das Graças da Silva, 46 anos, que vivia há 24 anos na Rua do Mar e perdeu a residência nas chuvas do dia 9.

“O susto foi grande, começamos a ouvir estalos e as rachaduras aparecerem. Chamamos o Gildão e, dez minutos depois da ajuda, tudo veio abaixo. Só conseguimos salvar documentos e roupas”, lembra Maria, que atualmente vive com a família no Jardim Ruyce, com o auxílio-aluguel da Prefeitura.

Outra família que agradece a ajuda de Hermes é a da operadora de caixa Marta Cristina Prudêncio Pastori, 24. Há 27 anos, a família dela construiu a residência que ruiu no dia 9.

Com a chuva daquele dia, por volta das 21h, começamos a observar trincas e estalos. Fomos chamar o Hermes para ligar para a Defesa Civil. Ele recebeu a orientação de nos retirar e foi a sorte. Tudo desabou e tenho a agradecer a Deus e a ele”, conta.

Marta lembra que há 11 anos, por conta da chuva, parte do banheiro tinha caído. A casa de dois cômodos ganhou o segundo andar há oito anos.

“Meu pai resolveu ampliar a casa, mas não pensávamos que iria acontecer isso. Toda vez que chovia, a água chegava no degrau de casa, mas nunca invadiu”, afirma. Atualmente a família mora em casa alugada, no bairro Jardim dos Eucaliptos.

A auxiliar de limpeza Ivanilda de Araújo de Sousa, 52, já previa o pior. A casa dela foi uma das seis residências que desabaram no início do mês, mas a moradora já havia deixado o imóvel havia mais de um mês. “Em novembro, comecei a escutar estalos, depois surgiram as rachaduras de quatro dedos, até que a casa foi interditada; saí em dezembro, com duas netas. Quando soube do desabamento, agradeci por não estar lá.”

Neste ano foram removidas na Rua do Mar cerca de 15 famílias, que foram incluídas no programa de renda mínima, modalidade auxílio-aluguel, cujo benefício é de R$ 300 a R$ 350, de acordo com o número de pessoas da família.

Prefeitura de Diadema disse ter aprovado recursos da ordem de R$ 21,6 milhões do governo federal, no âmbito do PAC (Programa de Aceleramento do Crescimento) 2, e mais R$ 13 milhões do programa Minha Casa, Minha Vida para projeto da UAP (Urbanização Integrada de Assentamentos Precários) Gazuza, que inclui a Rua do Mar e mais 11 núcleos habitacionais do município.

Fonte: Diário do Grande ABC